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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Existe Filosofia Latino-americana e no Brasil ?




Sim, existe filosofia latino-americana e no Brasil. Somos capazes de pensar com o mesmo valor epistemológico que a Europa. A inovação da filosofia latino-americana é o olhar do outro a partir da perspectiva do outro. A forma de ser e pensar da américa latina em especial o Brasil é muito frutífero para o mundo filosoficamente falando. A forma de lidar com o multiculturalismo, a convivência pacífica com povos e etnias diversas tem revelado ao mundo uma nova maneira de ser da sociedade. O início do pensamento latino-americano e brasileiro tem a influência do valor epistemológico europeu, só que não ficamos presos a este valor, estamos indo além, buscando os nossos próprios caminhos, o que seria fazer uma filosofia própria.
A Filosofia no Brasil:
No século XX brasileiro há um significativo volume de produção e publicação de textos de valor filosófico. Nas primeiras décadas do século XX até 1945 tem-se um rico período de reflexão sobre a situação e os destinos do país, organização de sua sociedade e a brasilidade de sua cultura.
A tematização sobre o nacional, a sociedade brasileira e a brasilidade é realizada em diversos campos, articuladas a distintas práxis sociais, colocando em questão projetos para o país, alimentando reflexões no campo da arte, da política e da elaboração científica.
No campo da estética, na primeira metade do século XX, o movimento modernista nasce e perdura buscando uma renovação artístico-formal, identificada com valores autóctones, enraizados no solo nacional, tematizando assuntos brasileiros e costumes populares. A Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, divulgarão manifestos diversos que, resgatando elementos da cultura nacional, apontam para uma transformação do país.
No campo científico, com a projeção do positivismo e de seus desdobramentos no último terço do século XIX, vários objetos de investigação passam a ser tratados com uma abordagem cientificista. Busca-se, então, explicitar os fundamentos, lógico-formais e empírico-materiais, do tratamento científico de fenômenos naturais e sociais. Jornal GGN - Em um experimento conduzido pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, três macacos conseguiram controlar um braço virtual.
No início do séc. XX, no campo político há um vivo debate filosófico entre anarquistas e marxistas sobre o futuro do Brasil. O liberalismo propagado no Império torna-se agora ideologia de implantação e manutenção do capitalismo industrial. Debate-se o socialismo, o anarquismo e o comunismo como alternativas de organização sócio-econômica nacional.
O período que transcorre de 1945 a 1964. A filosofia é entendida tanto como totalização do saber, método, ideia reguladora, arma ofensiva e comunidade de linguagem, quanto como instrumento que atua para transformar a sociedade nacional subdesenvolvida e periférica aos centros de decisão. O ISEB, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, que aglutinou diversos pesquisadores em torno de problemas brasileiros, particularmente o seu desenvolvimento.
O ISEB, Instituto Superior de Estudos Brasileiro, criado em 1955, era um núcleo de assessoria ao Governo Federal, subordinado ao Ministério da Educação e Cultura. Tinha como finalidade ser um centro permanente de estudos políticos e sociais de nível pós-universitário que tem por finalidade o estudo, o ensino e a divulgação das ciências sociais, notadamente da sociologia, da história, da economia e da política, especialmente para o fim de aplicar as categorias e os dados dessas ciências à análise e compreensão crítica da realidade brasileira visando à elaboração de instrumentos teóricos que permitam o incentivo e a promoção do desenvolvimento nacional. O ISEB foi o principal responsável pela elaboração da estratégia econômica nacional-desenvolvimentista. Com o golpe de 1964 o ISEB é extinto.
Na segunda metade do século XX, o marxismo tornou-se no Brasil um forte pólo de atração no campo das ciências sociais e econômicas. O pensador marxista e comunista militante, articulando existencialmente teoria e prática, abrindo-se a diversos campos de reflexão interligados: história, filosofia, economia e política, cujos trabalhos produzidos, em cada setor, se lastreiam mutuamente.
O pensamento católico – com sua doutrina social, seu humanismo e engajamento político –, deu base a teses solidaristas sobre o desenvolvimento econômico brasileiro. Ninguém dúvida mais que a superação da crise que nos aflige não pode ser procurada na linha de uma volta ao Capitalismo. Mas igualmente critica o socialismo, compreendido pelo autor como stalinismo, que, concentrando o poder no Estado e em seus órgãos políticos de gestão, possibilitou a manipulação de indivíduos e de grupos sob o exercício centralizado de um poder autoritário. O solidarismo é um sistema que leva a democracia a suas últimas consequências.
Paulo Freire, já entre meados da década de 60 a meados da década de 70, defende a "educação numa perspectiva libertadora", como método de ação transformadora. Mais que uma pedagogia, Freire desenvolve elementos de uma filosofia da educação. Considerando a práxis como a relação dinâmica entre prática e teoria, ação e reflexão, mundo e consciência, em que ambos os pólos se fazem e se refazem continuamente pela sua relação dialética. A educação libertadora é o procedimento no qual o educador convida os educandos a conhecer, a desvelar a realidade do modo crítico.
A filosofia da libertação, como corrente filosófica específica, elaborando categorias, métodos e linguagens orientadas à reflexão crítica e realimentação das práxis de libertação, emerge no final dos anos 60 e início dos anos 70, com diferentes abordagens paradigmáticas. A Filosofia da Libertação, no contexto da Filosofia Latino-Americana, constitui uma corrente de pensamento filosófico que busca a reflexão crítica sobre a opressão do homem, a partir de uma perspectiva latino-americana.
A elaboração teológica sobre a ortopraxia de Jesus, é a ênfase na conduta, tanto ética quanto litúrgica, em oposição à fé ou a graça, desde a qual consideram criticamente a ortodoxia cristã. A teologia da libertação dará margem a diferentes interpretações sobre o caráter da ação pastoral, sobre os fundamentos da elaboração teológica e sua crítica rigorosa, a respeito da ação pastoral. A Igreja exerce uma eminente função e missão política na medida em que ajuda a construir o bem comum a partir dos deserdados e a fundamentar uma sociedade mais igualitária e democrática.
Na perspectiva dialética, a filosofia política ocupa um lugar central, como uma teoria da práxis, considerando o espaço social e o tempo histórico, particularmente no horizonte marxista.
As reflexões filosóficas e publicações têm contribuído para uma compreensão crítica de importantes problemas da contemporaneidade brasileira, tem como expoente Marilena de Souza Chauí.
Nos anos 90 ganha corpo no Brasil um crescente movimento de economia solidária, centrado na autogestão de iniciativas econômicas pelos trabalhadores que se integram em fóruns e redes locais e nacionais, apontando para uma concepção de desenvolvimento sustentável.
O modo de pensar brasileiro faz parte de uma reflexão crítica a respeito de nosso modo de existir, de nossa linguagem, de nossas falsificações existenciais e históricas é que poderemos chegar aos limites de uma Filosofia nossa. Para tanto, colocar em questão nosso particular modo de estar e ser, os valores que constituem nosso horizonte intelectual. E traçar as peripécias do trajeto histórico que nos levou a ser o que somos.

Referência:
MANCE, Euclides André - O PENSAMENTO FILOSÓFICO BRASILEIRO E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA NO SÉCULO XX, 2009.





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